sábado, 10 de julho de 2010

Metade - Oswaldo Montenegro


Que a força do medo que tenho, não me impeçam de ver o que anseio.

Que a morte de tudo que acredito não me tape os ouvidos e a boca,

Porque metade de mim é o que eu grito, mas a outra metade é silêncio.

Que a música que ouço ao longe, seja linda ainda que tristeza.

Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada mesmo que distante,

Porque metade de mim é partida, mas a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece

Nem repetidas com fervor, apenas respeitadas

Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos,

Porque metade de mim é o que ouço, mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que eu mereço,

E que essa tensão que me corrói por dentro seja um dia recompensada,

Porque metade de mim é o que penso, mas a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste, e que o convívio comigo mesmo

Se torne ao menos suportável.

Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso que me lembro ter dado na infância,

Porque metade de mim é a lembrança do que fui, a outra metade eu não sei...

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria para me fazer aquietar o espírito

E que o teu silêncio me fale cada vez mais,

Porque metade de mim é abrigo, mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta, mesmo que ela não saiba

E que ninguém a tente complicar, porque é preciso simplicidade para fazê-la florecer,

Porque metade de mim é platéia e a outra metade é canção.

E que a minha loucura seja perdoada,

Porque metade de mim é amor e a outra metade também.

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