quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

O Enterrado Vivo


É sempre no passado aquele orgasmo,
é sempre no presente aquele duplo,
é sempre no futuro aquele pânico.

É sempre no meu peito aquela garra.
É sempre no meu tédio aquele aceno.
É sempre no meu sono aquela guerra.

É sempre no meu trato o amplo distrato.
Sempre na minha firma a antiga fúria.
Sempre no mesmo engano outro retrato.

É sempre nos meus pulos o limite.
É sempre nos meus lábios a estampilha.
É sempre no meu não aquele trauma.

É sempre  no meu amor a noite rompe.
É sempre dentro de mim meu inimigo.
É sempre no meu sempre a minha ausência. 

[Carlos Drummond de Andrade]

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